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MEDITAÇÕES

A Palavra de Deus é a relíquia das relíquidas, a única, na verdade, que nós, cristãos, reconhecemos e temos. (MARTIN LUTERO)

Quaresma

Não só de pão viveremos!

No dia 26 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, iniciamos uma importante celebração da fé cristã – a Quaresma – Essa época é representada pela cor violeta, símbolo de meditação, do equilíbrio, da serenidade e da disposição para o arrependimento. Como o próprio nome já diz, Quaresma é o período de 40 dias que iniciam após a quarta-feira de cinzas e prossegue até a sexta-feira Santa na crucificação de Jesus.

Iniciamos o tempo da quaresma meditando no Evangelho de Mateus 4.1-11 sobre a tentação de Jesus Cristo no deserto. Após ser batizado Jesus Cristo segue para o deserto a fim de meditar sobre a sua vida e a sua missão aqui na terra. Foram 40 dias jejuando e meditando. Ao findar seu tempo no deserto, Jesus é tentado pelo diabo que manipulou a sua consciência. Jesus sofre três tentações para se desviar da sua missão que o levaria rumo à cruz do calvário. A primeira tentação foi sobre a Privação de Pão: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão” (v.3); a segunda tentação foi Colocar à Prova o Senhor Deus: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui” (v.6); e por fim, a última tentação foi sobre a Ganância de ter Poder e Glória: “Eu lhe darei todo este poder e toda esta riqueza...” (v.9)

A Quaresma nos lembra do caminho de sofrimento de Jesus Cristo em nosso favor. É um tempo oportuno de olharmos para Deus, que em Jesus, assume o compromisso com sua criação; não com força, poder, violência ou vingança, mas com amor, compaixão e misericórdia. Na cruz, ao derramar o seu perdão sobre a humanidade, Deus assume em Cristo Jesus o compromisso com a paz. Pelo batismo recebemos gratuitamente o precioso presente da salvação. Ser uma pessoa batizada significa aceitar esse presente e crer nisso. Crer significa comprometer-se. Comprometer-se com essa fé. Viver nesse amor, nessa compaixão e misericórdia, ser capaz de amar, compreender, perdoar e viver em paz com as pessoas, principalmente as que mais me são diferentes!

Quaresma é um tempo oportuno para refletirmos sobre nossa caminhada de fé e como nós estamos enfrentando os desertos e as tentações na nossa vida aqui na terra. É um tempo para vivermos o arrependimento e jejum. Nada melhor para preparar o caminho e vencer nossos desertos do que o arrependimento e o jejum.  Como símbolo de arrependimento utilizamos as cinzas. A tradição das cinzas como sinal de penitência e arrependimento remonta ao Antigo Testamento. No Livro de Jonas, (3.5-8), o ritual é descrito com detalhes. Em sinal de arrependimento, o rei de Nínive proclama um jejum. Ele e as pessoas em Nínive rasgam as vestimentas bonitas, vestem-se de panos de saco e sentam-se sobre cinzas.

O Jejum tem por objetivo estimular a reflexão pessoal no tempo da Quaresma. Jejuar não é apenas abster-se de algo com a intenção de agradar a Deus. Jejuar também não é fazer dieta para emagrecer ou desintoxicar, ainda que isto seja um benefício adicional. Jejuar é deixar de consumir algo para ser compartilhado com alguém que pouco, ou nada tem. O que eu não consumir irá beneficiar alguém que passa por necessidades constantemente. O jejum verdadeiro é o que se abre mão de consumir para compartilhar com meus irmãos e irmãs mais necessitados.

A lógica é fácil, porém a prática é um verdadeiro deserto! Não é fácil abrir mão de coisas que satisfazem a minha vontade. Mas o jejum quaresmal nos lança esse desafio: Deixar de consumir algo que gostamos muito (bebidas, chocolates, roupas, etc) e o dinheiro que economizamos com isso, doarmos para alguém que necessite ou alguma instituição de nossa igreja ou município! Ainda podemos pensar aqui em deixar o carro na garagem e andar mais a pé; escrever cartas para meus amigos e amigas; caminhar no fim da tarde para me exercitar e pensar na vida; prestar mais atenção quando as pessoas falam comigo.  Isso tudo, são atitudes que podem nos ajudar a refletir nesse tempo de quaresma. São atitudes que nos ajudam a atravessar e superar os nossos desertos!

Essa prática nos lembra de que toda pessoa é igual diante de Deus e que um dia estaremos na mesma condição: “Pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás” (Gn 3.19). A quaresma quer nos ajudar a sermos pessoas humildes. Foi pela sua humildade que Jesus conseguiu responder e suportar todas as tentações feitas pelo diabo. A exemplo de Jesus também nós podemos passar pelos desertos da vida e suportarmos em humildade nossos sofrimentos e tentações. Fazemos isso quando reconhecemos que “Nem só de pão vive o ser humano, mas de tudo o que procede da boca de Deus” (v.4). Isso quer dizer, da boca de Deus, da sua Palavra, não procede só o alimento para o corpo, que satisfaz nossos desejos e nosso ego, mas também, o que deve alimentar e nortear os nossos pensamentos, nossas ações, nossa alma. Da boca de Deus e da sua Palavra procede a fé.

Aqui somos lembrados que em nossos sofrimentos não estamos sozinhos, mas que temos um Senhor que está ao nosso lado que sabe o que é sofrer nesse nosso mundo, que deseja nos ajudar a superar todas as nossas angústias, aflições e tudo aquilo que torna a nossa vida difícil. E ao mesmo tempo nos desafia a ajudarmos uns aos outros a superar todas as dificuldades e sofrimentos na vida. Então o nosso jejum será um sair de nós para ir ao encontro do outro e tudo de nós mostrará ao mundo que somos da Vida que não morre jamais. Que nesse período de quaresma possamos caminhar com os olhos e o coração abertos para o milagre da vida que se apresenta diante de nós em todos os momentos. Eis que está aí o tempo da Páscoa, vida que vence a morte, vida renovada para todas as pessoas que creem. 

 

Henrique Arnold 

Pphmista Comunidade Evangélica de Lajeado – IECLB

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