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MEDITAÇÕES

A Palavra de Deus é a relíquia das relíquidas, a única, na verdade, que nós, cristãos, reconhecemos e temos. (MARTIN LUTERO)

Igreja em tempos de pandemia - Covid-19

O ano de 2020 certamente começou atípico. O mundo enfrenta uma pandemia causada pela COVID-19. Até o momento, nenhuma vacina está disponível para auxiliar no combate ao vírus. Uma das maneiras mais eficazes de combater o vírus é o distanciamento social. Governos se veem obrigados a tomar medidas drásticas de isolamento social e quarentena. 

Igrejas precisam agir rapidamente para se adaptar à nova realidade. Por um lado, deparam-se com a dolorosa, mas necessária, decisão de fecharem as portas. Por outro lado, precisam continuar prestando ajuda espiritual para as pessoas, consolando as que sofrem, anunciando uma mensagem de força e esperança.

A pandemia da Covid-19 tem levado igrejas por todo o mundo a fecharem suas portas e suspenderem atividades (RIFORMA. Instituto Humanitas Unissinos). Isso se deve ao fato de que as celebrações religiosas aglomeram pessoas. Diante do cenário da pandemia as igrejas são potenciais locais de contaminação do vírus, já que a propagação ocorre de pessoa para pessoa por meio de gotículas do nariz ou da boca que se espalham quando uma pessoa infectada tosse ou espirra (Organização Pan-Americana de Saúde). 

É preciso que as igrejas, fiéis e lideranças religiosas tenham bom senso e cooperem com as medidas de prevenção. Estamos vivendo um momento em que a recomendação é para que não sejam mais promovidas missas e cultos presencialmente. Isso é apenas por um período. Não significa o fechamento ou a falência de igrejas. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para refletir e encontrar novas maneiras de celebrar a fé.

Em agosto de 1527 a praga conhecida como Peste Negrachegou em Wittenberg, na Alemanha. A praga trouxe medo e dúvidas. A igreja da época também viu-se diante de uma difícil situação entre não abandonar as pessoas e não propagar a peste. Em seu escrito “Se alguém pode fugir de uma praga mortal”, Martim Lutero destacou a responsabilidade do governo de proteger e prestar serviços a seus cidadãos, o compromisso e o dever da igreja de cuidar das pessoas desamparadas e doentes, e lembrou da cautela contra o medo e a importância da ciência, da medicina e do senso comum. Escreve Lutero: “Deus criou remédios e nos dotou de inteligência para proteger e cuidar do corpo. ... Usem os remédios; tomem fármacos que possam vos ajudar, fumeguem a casa, o pátio e a rua; evitem pessoas e lugares onde o vosso vizinho não precisa da sua presença”.

Frente aos desafios impostos pela Covid-19, muitas pessoas e lideranças religiosas passam pelas mesmas preocupações e dúvidas da época de Lutero. Os conselhos dados pelo reformador ainda são válidos. Devemos respeitar a pandemia não correndo riscos desnecessários. Tendo isso no seu horizonte, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), lançou até o presente momento três notas oficiais orientando a suspensão das atividades comunitárias que envolvem encontro presencial de pessoas, sejam elas de qualquer idade. Esse é um belo gesto de amor e cuidado pela vida das pessoas. 

Por vezes parece ser incompreensível que uma igreja feche suas portas para celebrações religiosas. Porém, diante da gravidade do momento, é importante relembrarmos o que significa Igreja. A palavra Igreja vem do grego “eklesia” e serve para designar uma reunião local de pessoas que creem em Jesus Cristo, e não o espaço arquitetônico– “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mateus 18.20). 

No Credo Apostólico confessamos: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos.” A igreja nada mais é do que o encontro das pessoas que creem no trino Deus. Por isso confessamos que ela é a comunhão dos santos. As pessoas que fazem parte da igreja são santas não por ser uma qualidade delas, mas porque foram santificadas pelo próprio trino Deus (1 Cor 1.2) (BRAKEMEIER, 2010, p. 102).Ao explicar sobre o 3º artigo do Credo Apostólico (Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Cristã — a comunhão dos santos), no Catecismo Maior, Lutero afirma: “bem que à casa deveria chamar-se igreja apenas porque nela se reúne a multidão” (LUTERO, 1997,p. 454).

Lutero entende que a igreja é guiada e sustentada pela ação do Espírito Santo. A igreja não existe para o seu próprio bem. Sua finalidade não é em si mesma – construção/arquitetura. A igreja tem uma missão bem específica no mundo: ser “mãe que gera e carrega a cada cristão mediante a palavra de Deus, que ele revela e prega. Ilumina e incende os corações, para que a entendam, aceitem, a ela se prendam e nela permaneçam” (LUTERO, 1997,p. 454). 

 

Uma mãe que carrega sua criança no colo tem a empatia de compreender o medo que a apavora. Assim a mãe acolhe a criança e a consola. Se a igreja é como uma mãe, então ela também precisa ter a empatia de compreender as situações que causam medo e dor no mundo. Por isso, faz-se necessário entender a dimensão de uma pandemia como a Covid-19 para que também possamos ser um sinal de esperança e consolo em meio ao medo. 

A fé é expressa através do amor e é uma característica da igreja. Todas as ações realizadas em uma comunidade cristã devem partir do princípio do amor para com as pessoas que mais necessitam de cuidados. Por isso, como comunidade cristã, Igreja de Jesus Cristo no mundo, podemos contribuir nesse momento de pandemia, promovendo o amor que se traduz em cuidado mútuo, solidariedade, fraternidade e empenho pela vida. Buscamos forças nas palavras do próprio Cristo que nos anima afirmando: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10.10). 

Graças aos meios midiáticos podemos ter fácil contato com as pessoas. Ministros e ministras da IECLB estão sendo orientados a entrarem em contato por meio de ligações, postagens em páginas oficiais das comunidades no Facebook, grupos de WhatsApp e vídeos reflexivos. 

A nossa comunidade Evangélica aqui em Lajeado está fazendo uma interessante experiência. Todos os domingos são transmitidos, na página oficial da comunidade no Facebook, o programa “Palavra de Esperança”. Além disso, são oferecidos vídeos infantis sobre histórias bíblicas.  O Projeto “Máscaras com Amor” já confeccionou mais de 2 mil máscaras, das quais uma boa parte foram oferecidas gratuitamente no portão da Igreja, na rua Alberto Torres. O material foi doado por empresas, por membros, por simpatizantes e pelo Ponto de Pregação Jardim do Cedro. Isso é ser e viver igreja em tempos de pandemia!

Mesmo que não podemos nos encontrar pessoalmente em nossos cultos, continuamos vivendo a nossa fé de uma maneira diferente, mas não menos importante. Com confiança e fé passaremos por esse momento e voltaremos a nos encontrar nos cultos e demais atividades de nossa comunidade. Que possamos ter em mente a importância desse distanciamento social promovido também pela igreja.  Firmamos nossa confiança nas palavras do próprio Cristo que nos promete: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mateus 28.20).

 

Henrique Luiz Arnold 

Ministro candidato ao pastorado – PPHM

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