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MEDITAÇÕES

A Palavra de Deus é a relíquia das relíquidas, a única, na verdade, que nós, cristãos, reconhecemos e temos. (MARTIN LUTERO)

Elogio à loucura cristã

Há um ditado popular que diz: “De louco todo mundo tem um pouco.” Sigmund Freud, o pai da psicanálise, diria que ela faz parte de nós. O ser humano vive na companhia da loucura.

Ela pode ser resultado de uma doença mental como a neurose, a depressão, a psicose. Nesse caso é tarefa da medicina, especialmente da psiquiatria e psicanálise, ajudar a tratar ou manter sob controle. Mas há também a loucura que  resulta de pensamentos e atitudes considerados anormais pela sociedade, dependendo de onde cada um de nós vive. O que é loucura no Brasil pode não ser na África.

Grandes pensadores da humanidade trataram dessa forma de loucura. Homero, por exemplo, considerava que os seres humanos eram possuídos por deuses, que se expressavam nas suas “manias”. Sócrates falava de várias formas de loucura. Uma delas era a profética. Os deuses se comunicam com as pessoas possuindo o corpo de uma delas para transmitir as suas mensagens. Havia também a loucura ritual, segundo Sócrates. Essa se manifestava em momentos de êxtase, como através da dança, por exemplo. A terceira forma de loucura era a poética, inspirada pelas musas. O filósofo dialético Hegel considerava a loucura um desarranjo mental. A razão continua presente, mas as ideias não são compreendidas pelos outros.

Dentro dessa linha de pensamento, considerada anormal pela sociedade, também os cristãos foram considerados loucos.

 

No lugar onde o cristianismo surgiu, havia duas formas bastante difundidas e aceitas de pensamento “normal”. Elas aparecem nas seguintes palavras do Apóstolo Paulo: “Os judeus pedem milagres como prova e os gregos buscam a sabedoria.“ (1 Coríntios 1.22). Tanto a sabedoria como os milagres representavam força e poder nas mãos das pessoas daquele tempo. Quando os cristãos começaram a anunciar Jesus Cristo crucificado como poder e sabedoria de Deus, foi um escândalo, uma loucura. Parecia impossível aceitar essa forma de pensar. A cruz representava fraqueza e morte. Como é possível, a partir desse fato, estruturar um novo jeito de viver, com valores completamente diferentes de poder e sabedoria humana? “Pois aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana.” (1 Coríntios 1.25)

A cruz de Cristo é a expressão mais profunda do amor de Deus pela sua criação. Um amor que não faz uso de nenhuma forma de poder, nem mesmo diante da tortura e da morte: “Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!” (Mateus 27.42). Um amor dado, não conquistado, derramado, não represado, como fundamento e fonte de um novo jeito de ser e viver. Esse é o novo caminho proposto a nós pelo exemplo de Jesus: “Amem uns aos outros como eu amo vocês.” (João 15.12) Não o poder nem a sabedoria humana fazem de Jesus Filho de Deus, o Criador, mas o amor. Na mesma medida, não o poder  e nem a sabedoria fazem de nós seguidores e seguidoras de Jesus Cristo, mas o amor: “E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas.” (Colossenses 3.14)

Que loucura!

 

P. Luis Henrique Sievers

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