top of page

MEDITAÇÕES

A Palavra de Deus é a relíquia das relíquidas, a única, na verdade, que nós, cristãos, reconhecemos e temos. (MARTIN LUTERO)

Caminho para o diálogo

Por experiência, a conversa flui mais fácil entre pessoas que compartilham as mesmas ideias e comportamentos. O diálogo complica quando surgem discordâncias. Em princípio, as diferenças entre as pessoas não são ruins. Pelo contrário, tornam a vida mais dinâmica e desafiadora. Mas como tratar o diferente com respeito e consideração que merece se eu aprendi que o meu jeito de ser, viver e pensar é o “certo”? O outro, que pensa e vive diferente de mim, ou está enganado ou aprendeu errado. 

A situação complica ainda mais quando as diferenças e as divergências aparecem no campo da cultura, das tradições e até das religiões. A falta de entendimento entre as partes, não raro, leva grupos étnicos, países e religiões ao confronto e às guerras. Toda vez que isso acontece, fracassou o diálogo e venceu o ódio, a discriminação e a intolerância. Ao final, empobrecemos como humanidade.

Necessitamos de uma ética da convivência entre diferentes. Regras e princípios que garantam a riqueza da nossa diversidade e a justiça entre as partes.  Valores que promovam a convivência pacífica na pluralidade. A Regra de Ouro pode nos ajudar nesta tarefa. Jesus expressou-a assim: “Façam aos outros a mesma coisa que querem que eles façam a vocês.” (Lucas 6.31) Em muitas religiões e filosofias do passado e do presente, com algumas diferenças mínimas, nós encontramos a Regra de Ouro descrita da seguinte maneira:

Budismo – “Não firas aos outros com aquilo que te faz sofrer.” (Sutta Pitaka, Udanavagga 5,18)

Confucionismo – “O que não queres que te façam, tu não o faças aos outros.” (Confúcio: Analecta 15,23)

Hinduísmo - Não faças aos outros aquilo que, se fizessem a ti, te causaria pena. (Mahabharata 5.15.17)

Jainismo – “Na felicidade e no sofrimento, devemos nos abster de infligir aos outros aquilo que não gostaríamos que nos infligissem.” (Mahavira: Yogashastra, 2,20)

Fé Bahá’í – Não desejeis para os outros aquilo que não desejais para vós mesmos.” (Baha’u’llah: Kitab-i-Aqdas, 148)

Islamismo - “Verdadeiramente Deus ordena a justiça e fazer o bem.” (Corão 16:92) “ Nenhum de vós é crente até que deseje para seu irmão o que deseja para si mesmo.” (Sunnah)

Judaísmo - “Não faça a ninguém o que não queres que te façam.” (Tobias 4.15) “ O que para ti é detestável, não o faças tu ao próximo. Esta é toda a lei. O resto é comentário.” (Hillel: Talmud Babilônico, Shabbat 31a.)

Zoroastrismo -  “A boa natureza é aquela que se reprime para não fazer ao outro aquilo que não seria bom para ela mesma.” (Dadistan-i-Denik 49,5)

Tales de Mileto (600 a.C) - “Não faças o mal que vês nos outros.” 

Emanuel Kant -  “Age de modo tal que uses a humanidade, tanto em tua pessoa como em qualquer outra, sempre como um objetivo e nunca como simples meio.”

Essa regra básica e central, amplamente conhecida de tantas culturas e religiões, é um patrimônio inestimável da humanidade. É um princípio que pode facilitar relações menos discriminatórias entre as pessoas. Convida ao diálogo entre tantas partes diferentes e até conflitantes da sociedade sob a premissa de que os outros precisam do mesmo bem que quero para mim.  As próprias religiões têm nessa regra um terreno comum, sobre o qual podem aproximar-se umas das outras, em respeito e amor, e construir consensos sempre maiores e mais profundos (Cf. José Maria Vigil. Teologia do Pluralismo Religioso, p. 235)

Parafraseando Kant, citado acima, a humanidade que está em mim é a mesma que está na outra pessoa.

 

Quanto mais me aproximo dela, mais perto fico de mim mesmo. Assim como no espelho. Quanto mais perto dele, tanto mais e melhor eu me vejo.

P. Luis Henrique Sievers

bottom of page